José Manuel Saraiva
Fiquei muito contente pois recebi agora este e-mail do José Manuel Saraiva perguntando se podia publicá-lo no blog.
É claro que sim!
Fico feliz não só por dizer que nos visita mas também porque é para mim um excelente ilustrador, de livro infantil mas também um dos que me faz ter saudades da LIVROS, da ÍCON e dos tempos em que a Notícias Magazine nos pedia ilustrações "para adultos".
Já lhe pedi que me enviasse algumas imagens,por enquanto "saquei" esta do catálogo da ILUSTRAÇÃO PORTUGUESA 2004 por isso perdoem-me a qualidade.
Pertence ao livro JUSTE À CE MOMENT-LÁ publicado nas éditions Sarbacane (e com uma excelente critíca) .Obrigada ao José Manuel e a todos os visitantes do "escrever para o boneco".
Olá, envio um texto que se acharem bem, poderiam colocar no vosso
belíssimo BLOG:
Olá, o meu nome é José Manuel Saraiva e eu sou um alcoól… perdão, um
ilustrador.
Fiquei muito satisfeito por encontrar um espaço como este. Fazia falta,
sem dúvida. Em apenas uma semana, fez-se mais pela actividade do muitas
mesas redondas com assistência exígua ao longo dos anos. Consulto-o
todos os dias.
Em relação ao que disse a Manuela Bacelar, essa parece ser a posição de
algumas personalidades teóricas da literatura para crianças, como o
Bruno Bettelheim, entre outros, que diz:
“ Los libros de cuentos ilustrados que actualmente prefieren mayores y
pequeños no sirven para satisfacer las necesidades de los niños. Las
ilustraciones distraen más que ayudan. (…) Este tipo de cuentos pierde
gran parte del contenido del significado personal que el niño extraería
aplicando únicamente sus asociaciones visuales a la historia en lugar
de las del dibujante.”
Convém sublinhar que esta afirmação tem uns sessenta e tal anos… mas
não deixa de fazer sentido, essencialmente se pensarmos na ilustração
para crianças como um pedagogo, que é o caso do Bettelheim, que tende a
ver a ilustração ao serviço da leitura, e não como fim em si mesma ou
pelo menos, com igual individualidade e possibilidades de exploração.
Grande parte dos livros para crianças apresentam-nos o texto e a imagem
em espaços distintos muito bem definidos, funcionando a imagem como um
despertar da leitura. A ilustração só é elaborada após o contacto e
reconhecimento do texto, elaborado sempre previamente. A imagem
potencialmente pode ganhar autonomia, evitando a redundância em relação
ao texto, sugerindo leituras contidas de forma implícita no texto, mas,
como princípio, sem nunca deixar de partir deste.
No entanto, este modelo não pode ser aplicado ao género de livros que
são fundamentalmente do ilustrador e da imagem, e aos quais a Carla
Pott já fez referência, o picture book (em Portugal àlbum de imagem ou
álbum Ilustrado, ou álbum narrativo, aparentemente ainda não existe uma
unanimidade em relação à designação final), onde não existe uma
compartimentação de texto e imagem em duas zonas, mas uma unidade à
partida, onde as fronteiras de cada uma das linguagens textual e visual
, se mesclam e confundem, podendo a ilustração ser pensada em
simultâneo com o desenvolvimento do texto, podendo até nalguns casos,
ser o texto que vai procurar enquadrar-se numa imagem elaborada
anteriormente.
Isto para sublinhar estas duas grandes distinções, livros de texto,
essencialmente literários, por isso de escritores, com textos extensos
e o álbum de imagem/ilustrado, profusamente ilustrado e com textos
(geralmente) curtos, essencialmente do ilustrador, ou onde, pelo menos,
escritor e ilustrador têm o mesmo grau de importância na autoria. São
estes últimos que devem aparecer cada vez mais no panorama nacional.
Por outro lado já está aqui presente uma questão essencial. Julgo que
não podemos pensar na análise de uma ilustração para crianças (ou
Infanto-Juvenil) apenas por critérios artísticos mais ou menos
subjectivos e de contemporâniedade. O público alvo são as crianças.
Deve haver espaço para diferentes abordagens e possibilitar aos mais
pequenos um contacto diversificado. Isto para ir de encontro à questão
do Expresso e ao comentário da Carla Pott. Para os meus filhos comprava
as duas versões, a “fofinha” e a das colagens. Dá-se hoje em dia em
Portugal uma importância desmesurada à “qualidade artística”, que abafa
outras alternativas, e que faz com que alguns bons ilustradores tenham
injustamente uma espécie de sentimento de inferioridade.
A propósito, eu também fui recusado pelo Expresso. Mas achei um
bocadinho injusto o comentário da Alice (sorry A.G.), não pelo problema
com o Alain, um dos meus ilustradores preferidos, (o seu livro que mais
aprecio será o “Contos Judaicos”, que fez para a Ambar) mas sobretudo
nos termos em que o fez. A colecção está a sair globalmente com
qualidade e diversidade, e o caso Alain, não pode desmerecer dessa
forma o que de muito bom se tem visto, dando visibilidade
inclusivamente a novos bons ilustradores de qualidade.
Bom, para acabar, se alguém tiver a delicadeza de se sentar e LER o
texto e observar as imagens do meu último livro, UM DRAGÂÔ NA
BANHEIRA, Edições Gailivro, agradecia que me enviassem comentários para
ambas as linguagens, escrita e visual, para o meu mail:
jsaraiva@clix.pt
P.S. Alguém ficou surpreendido pela Manuela Bacelar referir as tiragens
de 1500 exemplares. Bom, importa divulgar que muitos dos livros
editados, e mesmo entre alguns premiados ao nível da ilustração, vendem
apenas 600 a 700 exemplares por… ano. Baixando inclusive no segundo
ano. Grande parte dos livros não passa da primeira edição de 2000
exemplares. As editoras têm, sem dúvida, muitos defeitos, mas actuam
num mercado pequeno que não contribui para arriscarem, preferindo jogar
pelo seguro e pelo que pensam que o público quer.
6 Comments:
Interessante e esclarecedor.
Bastante esclarecedor e pedagógico o teu contributo JMS.
O meu post sobre a colecção de fábulas pretendeu abordar de uma forma directa e deliberadamente provocatória a questão das escolhas e selecção que nos remete para a direcção de arte que por cá não existe. De 'paninhos quentes ' estou cansada. Ou melhor : do politicamente correcto. Por isso a blogosfera é para mim um local que privilegio a busca de informação. Por isso também, nasceu o 'escrever para o boneco' porque para mim os locais 'tradicionais' de discussão estão minados.Como tu sabes. Tu teres sido igualmente recusado vai de encontro ao que eu penso que após o 'boom' da ilustração para a infãncia, o mercado absorve mais depressa o mais comum e mais fácil.Só lamento que ilustradores como tu e o Alain tenham cada vez mais dificuldade no mercado nacional, por terem uma ilustração muito intelectual ou muito 'artística'.
Impede aquilo que tu referes como fundamental para a educação das crianças, a diversidade.
Olá a todos!
A questão da ilustração nacional, de óptima qualidade, é que está dependente demais de editoras e de publicações periódicas. Estas "entidades empregadoras" muitas vezes seguem as tendências "da moda" em vez de deixar os criadores seguirem a sua assinatura... Perde-se assim a capacidade de deixar um marco, que talvez, daqui a uns anos alguém venha a reparar porque é que X deixou de publicar e mudou de actividade!
Este espaço que descobri hoje (Obrigado amigo "Zé" Nunes) permitiu-me apreciar (mais uma vez) os trabalhos de algumas pessoas que admiro e que tenho vindo a seguir de à uns anos a esta parte!
Continuem e não desesperem, pois sendo nós um país "pequeno" temos grandes valores :)
Ola a todos, antes de mais gostaria de vos felicitar pela iniciativa de criarem este espaco.
Estando eu ligada a actividade educativa, particularmente de criancas, sigo com atencao o que se vai fazendo e editando...e na minha opiniao, (sei que vou ser crucificada) a maior parte dos livros infantis feitos em portugal nao sao feitos a pensar nas criancas, nao estou a questionar a qualidade do trabalho artistico em si, mas de facto e salvo raras excepcoes a minha experiencia com as criancas diz-me que muito embora elas prestem atencao enquanto a estoria esta a ser contado nao ficam "agarradas" pelas imagens.
No que toca as parcerias, escritor/ilustrador, parecem-me na maior parte dos casos "forcadas', leio os livros e nao sinto unidade.
Basicamente, e talvez por estarmos em pleno "boom" do livro infantil, parece-me que neste momento "vale tudo", acredito que quando passar a "euforia', desse 'objecto" que e o livro infantil comece a ser uma coisa mais bem pensada.
Acho tambem que este blog sofre de autismo reparei que os comentarios sao tendencialmente "a favor" da ilustracao, (feitos por ilustradores), e muito centrados em questoes umbiguistas, acharia mais interesante ver as discusoes centradas em- como elevar a "qualidade" do livro como um todo que e.
vou com toda a certeza continuar a visitar o vosso blog e a dar as minhas opinioes e parabens novamente pela iniciativa.
Lucy Moreira
Caros,
Sou apaixonada por livros infantis, não os ilustro nem escrevo, mas os coleciono :) Gostaria de deixar uma sugestão: se houver uma boa livraria portuguesa que venda online os livros citados nos posts e entregue inclusive no Brasil. Assim, vocês poderiam sempre linkar os citados livros, inclusive fazer uma lista de boas sugestões. Aposto que os leitores vão adorar!
abraços,
Luciana
Cara Lu,
Obrigada.Estamos à procura de um site assim.Havia uma livraria na net mas fechou.vamos passar a colocar os sites das editoras portuguesas tá?um beijo Carla
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