domingo, julho 24, 2005

Não é desistindo que se melhoram as coisas

De facto, há situações que facilmente nos podem levar ao desespero. Decidi escrever depois de ter lido o grito de revolta da Carla e queria, desde já, deixar claro que compreendo a reacção dela, até porque a maior parte do meu trabalho é feito na mesma área e também já fui vítima de atentados do género e outros piores, como, por exemplo, a destruição de originais.

No entanto, acho que não podemos cair em certos erros, como o da generalização. Primeiro, porque a 0 a 8 não é uma editora. Trata-se de uma empresa de marqueting que decidiu investir num projecto de edição. Isto não os desculpa de forma nenhuma, mas é importante separar as águas e não transformar em carrascos outras editoras que têm feito um esforço por compreender a forma de trabalhar dos ilustradores e as suas necessidades.

É no acompanhamento deste esforço que temos também um papel importante a desempenhar. Existem muitas pessoas novas a trabalhar na área da edição de livros para crianças com vontade de aprender e a consciência de que um bom livro se faz com a colaboração de todas as partes envolvidas. Creio que a solução para estes problemas está na relação com os editores. Se temos o direito de nos queixarmos, também temos o dever de lhes exigir condições para trabalhar; marcando prazos exequíveis; forçando o acompanhamento do trabalho em todas as fases; alertando para as questões da paginação; etc. Talvez com a criação de directores de arte nas editoras estes dissabores fossem menos frequentes, mas, até lá, cabe-nos também a nós zelar pelo melhor tratamento dado ao nosso trabalho. Ainda há muitas falhas e elas continuarão a existir, certamente, até porque cada livro é uma experiência nova que obriga a enfrentar obstáculos novos.

É por isto que acho que não é desistindo que se melhoram as coisas. Assim, estaríamos a reconhecer que tudo o que se tem feito nos últimos anos não valeu a pena. O Salão Lisboa, a Bedeteca, com as suas edições e exposições, o trabalho de pessoas como o Jorge Silva, o João Paulo Cotrim, ou mesmo o que se tem feito no Barreiro, nada disto valeu a pena? E o esforço de uma nova geração de ilustradores que tem contribuido para o enorme salto qualitativo das edições de livros para crianças? E este blog, não será ele um caminho mais sensato para melhorar as coisas do que o virar a as costas e admitir que já não há nada a fazer?

6 Comments:

Blogger kikazinha said...

André, eu li o teu post e claro que não me referia aos esforços da Bedeteca, nem a outros.
Mas eu não tenho tempo para andar a ensinar aos outros um trabalho que não me compete e para o qual não sou paga quando posso fazer o mesmo sem me aborrecer.
Eu não posso passar o tempo a levar livros à SPA e a queixar-me de falhas que não deviam acontecer.
Há anos que tem sido assim, não acredito que o blog mude alguma coisa, será tão pequena a mudança que continuaremos a acordar e a abrir os nossos livros e a encontrar as mesmas desilusões.
Atenção que não foi uma situação de chegar "Fácilmente" ao desespero, isto é o resultado de acumular anos de pequenos desesperos e tu conheces-me bem acho que deves saber como sou e que não sou pessoa de desistir ou desesperar com facilidade.Mas pela primeira vez fiquei completamente desmotivada nem me apetece ouvir falar em livros infantis.
Para mim chegou apenas o momento de colocar os pés na terra e deixar de criar expectativas e canalizar o meu trabalho para outro lado.
A Bedeteca estará lá na mesma,o Barreiro também,mas poderei representar o meu trabalho sem deixar de ser uma ilustradora portuguesa,só que trabalhando para outros países ou apenas para a Imprensa.

9:20 da tarde  
Blogger kikazinha said...

O discurso do André é muito bonito vindo de quem não se anda a desgastar, eu com certeza também vou experimentar ficar em silêncio durante meses a guardar energias e depois aparecer de repente e dizer "Não é a desistir que se mudam as coisas".
A Levina tem razão no que diz, mas há um problema que começa no facto de nem todos os ilustradores poderem fazer o que nós fazemos, paginar,seguir o trabalho até à gráfica,etc.As editoras não deixam todos os ilustradores fazer isso.
A falta de homogeneidade no tratamento,que tem diferenças enormes de ilustrador para ilustrador dentro de uma mesma editora e o André sabe muito bem que isso acontece, também é por culpa de toda uma geração dos últimos 10 anos que viveu numa apatia total e ausência de exigências mais activa.
Para meia dúzia de pessoas que andam a "exigir" abertamente é um discurso isolado e cansativo e isso é muito desgastante.
Quem disser que não é a desistir que se mudam as coisas,então por favor que assuma uma posição mais activa.
André,esta é mesmo para ti,fico à espera.Até este teu post, têm sido outros aqui no blog!

4:04 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

andre é mais lúcido, sem duvida

8:56 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

André,
Não se trata de uma posição mais activa, trata-se de facto de prazos e também de uma espécie de códigos que fomos discutindo que era melhor todos termos para que o blog sobrevivesse.
Não achei que fosse um ataque pessoal, achei que devias ter cuidado com o timing com que vieste dizer as coisas e com a forma como disseste algumas.Interpretaste mal se pensaste ser um ataque pessoal e não vale a pena fazer disto algo que mereça um post.
Nós estamos todos com excesso de trabalho,sem férias também.Achei que tinhas recebido e concordado com os e-mails que fomos enviando uns aos outros sobre esses factos necessários à sobrvivência deste blog.

10:49 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

mas que bela parvoice... cada um escreve ao seu ritmo... assim deixa de ter piada para os de fora se os ilustradores se comecam a atacar...

9:03 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

...mas quem és tu amigo, és grande, deviamos fazer um blog juntos... nós os dois mais a carla pott, que é a unica que está ao nosso nivel neste blog, não fosse por ela e isto não tinha graça nenhuma

um grande abraço para ti e beijinhos pra Carla

nastymotherfucker is back

12:22 da manhã  

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